Brasil consegue adesão da OMC à discussão da guerra cambial

outubro 25, 2011

O Brasil conseguiu aprovar na Organização Mundial do Comércio (OMC) a realização de um seminário para discutir a relação entre câmbio e comércio internacional. Será a primeira vez que a OMC vai debater a questão cambial, assunto até então proibido no âmbito do órgão. A aprovação da proposta brasileira, apresentada ao Grupo de Trabalho sobre Comércio, Dívida e Finanças do órgão, ganha importância por ter recebido apoio de todos os membros do grupo, inclusive Estados Unidos e China. “Estamos superando um tabu que é o de não se falar em taxas de câmbio na OMC. Evidentemente, há disposição dos membros em colocar o assunto em pauta”, disse o embaixador do Brasil na OMC, Roberto Azevedo.

O seminário deve ser realizado no primeiro trimestre de 2012, mas ainda não tem local definido, formato ou teor. A ideia é convidar membros dos governos, setor privado e acadêmicos de vários países, Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI) e Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad), entre outros, para aprofundar as discussões. Azevedo comemorou a decisão. “Dentro do gradualismo das decisões da OMC, não podíamos esperar um resultado melhor dessa reunião que aconteceu hoje (ontem)”, acrescentou o embaixador.

Para especialistas, a aprovação da proposta brasileira representa o reconhecimento de que o câmbio é um problema que afeta as relações comerciais. Até então, o consenso entre os países membros era de que a OMC não era o fórum adequado para se discutir a questão cambial. Avaliar as causas que levaram ao desalinhamento do câmbio, para a maioria dos membros, ainda é uma competência do FMI, mas a OMC pode e deve examinar os impactos da oscilação cambial sobre o comércio – desde que não entre no mérito dos motivos que levaram a essa situação.

Também segundo os analistas, não há consenso entre os países sobre a criação de novas regras para regular a questão. Pelo contrário, há até ceticismo, já que a OMC não edita novas normas sobre qualquer tema há 16 anos. Mas a aprovação da realização do seminário é vista como condição necessária para suscitar a questão – embora o evento, em si, não seja suficiente. Para o ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Miguel Jorge, esta é uma “decisão histórica” da OMC. “Embora seja apenas o começo, só o fato de a OMC ter aceitado discutir o assunto é importantíssimo. Isso sinaliza uma boa vontade da OMC em discutir o assunto, algo que nunca aconteceu”, afirmou.

O embaixador Rubens Barbosa ressaltou que a decisão da OMC é “um passo na direção correta”, mas ponderou não se deve esperar resultados no curto prazo. “Não devemos esperar nenhum resultado imediato. É um processo longo, que está apenas começando”, disse. Barbosa destacou que não há disposição da China e Estados Unidos em aprovar qualquer regra nova na OMC que diga respeito ao câmbio. “É claro que vai haver oposição contra qualquer mudança de regras por parte desses dois países, mas só o fato de Estados Unidos e China não terem barrado a realização do seminário já é muito interessante.”
Fonte: Jornal do Comércio


Câmbio provoca ‘ressaca’ em novos importadores

setembro 26, 2011

SÃO PAULO – Entre 2003 e 2010, período de alta do real, o Brasil ganhou 16.360 novos importadores. Hoje são quase 39 mil empresas dedicadas a trazer produtos do exterior – boa parte bens de consumo da China. Para esses empresários, que atendem desde o comércio popular da Rua 25 de Março no centro de São Paulo a grandes varejistas, a virada do câmbio atingiu em cheio os negócios.

Os importadores contam que o impacto é praticamente imediato, porque muitos contêineres com mercadorias vindas da Ásia estão chegando nos portos e precisam ser pagos. E, mesmo para aqueles que negociaram com antecedência com os fornecedores, utilizando um câmbio mais vantajoso, os impostos são cobrados pelo dólar do dia, o que onera os custos das empresas imediatamente.

“Vai impactar rápido nos preços”, diz Ariel Hamoui, diretor de marketing da Full Fit, importadora de utilidades domésticas que atende clientes como Camicado, Tok Stok e Etna. Ele conta que a empresa vinha trabalhando com o dólar a R$ 1,70, deixando um pequeno colchão em relação aos R$ 1,55 que a moeda chegou a ser negociada em agosto. Com o dólar acima de R$ 1,80, a margem de manobra acabou. “A concorrência é muito grande. Não dá para trabalhar com um nível de proteção ainda maior.”

A Satyam é uma importadora que atende pequenas lojas em todo o Brasil, especializada em produtos de época como enfeites de Natal, brinquedos para o Dia da Criança e material escolar para a volta às aulas. O dono da empresa, Delpak Shizlani, também afirma que vai ser impossível não repassar preços, dada a magnitude da variação da moeda brasileira neste mês. “Já recebemos os enfeites de Natal, mas depois disso não tem como segurar os reajustes”, disse.

Estoques. Os importadores contam que a situação é ainda mais grave porque seus estoques estão baixos graças às recentes medidas adotadas pelo governo. Nos últimos meses, a administração Dilma Rousseff adotou uma série de tarifas antidumping, aplicou licenças não automáticas de importação e tornou mais rigorosa a fiscalização do Inmetro, que tem demorado para emitir seus certificados.

“Estamos no pior dos dois mundos agora que o câmbio virou”, conta um importador que preferiu não se identificar. Outro fator que contribui para os estoques baixos é a falta de reposição nas fábricas da China, que enfrentam escassez de mão de obra nas regiões costeiras.

De acordo com Gustavo Dedivitis, presidente da Associação Brasileira de Importadores, Produtores e Distribuidores de Bens de Consumo (Abcon), o único ponto favorável da desvalorização do real é desestimular os importadores “aventureiros”. “Qualquer um abria uma empresa de importação e, às vezes, nem pagava impostos, prejudicando a imagem do setor. Com o real mais fraco, vão sobrar apenas os importadores profissionais”, afirmou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


Mantega descarta medidas para segurar alta do dólar

setembro 22, 2011

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta quarta-feira (21) que a alta do dólar no Brasil é reflexo da crise europeia e descartou medidas imediatas para conter a valorização. O valor da moeda americana ultrapassou a marca de R$ 1,80 nesta quarta-feira, maior cotação em mais de um ano.

“A alta do dólar no Brasil e em outros países reflete aversão ao risco que ocorre por causa da demora na resolução dos problemas europeus”, disse o ministro a jornalistas brasileiros ao desembarcar em Washington.

Segundo o ministro, se houver apenas uma “piora relativa” na crise, a tendência é de uma movimentação gradual da moeda, “perfeitamente assimilada pela economia”.

“É claro que, se houver uma forte desvalorização, pode preocupar, mais pelos efeitos que pode ter com alguns devedores brasileiros”, disse.

“Mas para que isso aconteça é preciso um grande agravamento da crise”, disse. “Se a coisa ficar feia, então nós vamos ter que repensar tudo e ver o que precisa ser feito”.

De acordo com o ministro, a valorização do dólar indica uma piora da crise internacional, que pode levar à queda de preços de commodities.

“Se de fato houver um agravamento da crise, significa, as variáveis vão se modificar. Se caem os preços de commodities então não há pressão inflacionária”, disse.

A alta da inflação é uma preocupação do governo brasileiro, que vem tentando trazer a taxa de volta ao centro da meta, de 4,5%, até o próximo ano. Neste ano, há o risco de que a taxa de inflação feche acima do teto da meta, de 6,5%.

“Então uma coisa compensa a outra. Se por um lado a valorização do dólar pode trazer alguma pressão inflacionária no Brasil, por outro lado, a piora da crise, com a deterioração dos preços das commodities, traz uma queda”, disse Mantega.

“A alta do dólar no Brasil e em outros países reflete aversão ao risco que ocorre por causa da demora na resolução dos problemas europeus”

Mantega observou ainda que a menor valorização do real traz alguns benefícios para a produção industrial e os exportadores brasileiros.

A grande valorização do real frente ao dólar verificada nos últimos meses é motivo de reclamações do setor no Brasil, já que acaba prejudicando a competitividade das exportações no mercado internacional.

Fonte: Jornal do Comércio


Brasil vai à OMC com uma delirante proposta cambial

setembro 22, 2011

Depois de tomar uma equivocada medida protecionista ao elevar o IPI para automóveis, o governo lançou ao mundo a ideia do antidumping cambial, slogan com o qual pretende levar a Organização Mundial do Comércio a aceitar retaliações extraordinárias para proteger a produção nacional em caso de importações de países que fizerem desarmonizações competitivas no mercado global. A última iniciativa não deve provocar tantos estragos como a primeira, não porque esta não seja ruim – é péssima -, mas porque não será aplicada e naufragará sob o peso de sua inconsistência.

A equipe econômica do governo acha a coisa mais natural do mundo fixar uma banda de flutuação para as grandes moedas do Comércio internacional que, uma vez ultrapassada, deslancharia redentoras medidas defensivas pelos países. O Brasil já apresentou à OMC sua “proposta de discussão”, mas vários argumentos das autoridades brasileiras não têm pé nem cabeça. Um deles é que quando os países se comprometeram com as atuais tarifas de importação, em 1994, prevaleciam taxas de câmbio fixas. Isso não é verdadeiro. Quem de fato estava ingressando no câmbio quase fixo era o Brasil, uma decisão que, levada além de seus limites, se revelou um desastre para o país e que depois, aplicado de forma ainda mais férrea, quebraria a Argentina.

A questão cambial é extremamente complexa e quase intratável para os economistas até hoje. Determinar uma banda de flutuação não é fácil para um país, quanto mais para um conjunto deles. A banda brasileira, por exemplo, foi para o espaço em 1999 em meio a uma aguda crise cambial. Além disso, seria necessário estabelecer o que seria o câmbio de equilíbrio aproximado para várias moedas e delimitar o ponto exato em que uma desvalorização exigida pelos fundamentos se transformaria em uma manipulação cambial intencional – algo delirante. Mais: o governo tem se vangloriado da independência que mantém em relação aos organismos multilaterais e, com sua proposta, estaria convidando um ou mais deles a colocar limites à política cambial brasileira. Não faz sentido.

O avanço da economia brasileira provocou a valorização do real, mas dela não decorre diretamente, e fatalmente, a perda de competitividade dos bens produzidos no país. Há instrumentos de política econômica para detê-la, todos conhecidos, como redução de impostos, investimentos na infraestrutura e educação, contenção dos gastos públicos, uma estrutura de defesa comercial eficiente etc. O Brasil avançou pouco nisso e coroou suas deficiências com a maior taxa de juros do mundo – herdada por Lula e da mesma forma transmitida por ele a Dilma Rousseff.

Economistas do governo, porém, estão revelando um roteiro que pode levar o país de volta a uma economia pré-globalizada. O subtexto, já pinçado em declarações de ministros, é que os EUA, com sua política de afrouxamento monetário, são os responsáveis pelo real forte, e causaram uma enxurrada de dólares no Brasil. Mas boa parte da história está no conservadorismo com os juros no governo Lula, que, certo ou errado, abriu um vasto diferencial entre juros domésticos e externos – um convite ao lucro sem risco.

A política monetária americana não é responsável pela perda de competitividade brasileira. O vilão mais provável, se há que escolher um, é a grande manipuladora cambial, a China. Mas além de simpatias ideológicas que o dirigismo chinês levanta em membros do governo brasileiro, a China é tratada com deferência por ser a maior compradora de nossas commodities, além de um dos mais agressivos competidores do Brasil no mercado internacional.

Com os chineses não se fala duro. Não está nos planos do governo aplicar salvaguardas autorizadas na OMC contra a China, uma arma tão eficaz que os chineses ameaçam explicitamente retaliar os países que lançarem mão dela. “O assunto não é individual, um país contra o outro”, diz o ministro Fernando Pimentel (Valor, 20 de setembro). Há um enorme desequilíbrio global entre países superavitários (China e Alemanha) e deficitários (EUA) que precisa ser resolvido. Discutir uma banda cambial planetária não é solução. A solução, se vier, não virá tão cedo. Em todos os casos, seria importante ter um sistema de proteção comercial eficaz, aparelhado e ágil para utilizar os instrumentos já existentes para se defender, como fazem os países desenvolvidos. Por aqui, ele não existe.

Fonte: Valor Econômico


EUA pressionam China por câmbio

outubro 7, 2010

Secretário do Tesouro americano vê risco ao crescimento global

O secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, alertou ontem a China que sua resistência a fazer uma reforma cambial pode minar o crescimento econômico e a cooperação internacional. Ele pediu ainda que outros países se juntem aos Estados Unidos a fim de criar um “mecanismo multilateral efetivo” para lidar com a questão.

— O maior risco global hoje é que as grandes economias não cresçam o suficiente — disse Geithner em palestra no Brookings Institution.

Ele citou a questão cambial como um dos principais desafios para os ministros de Finanças do G-20 (grupo das principais economias, ricas e emergentes), que terão uma reunião informal este fim de semana, paralelamente ao encontro de Banco Mundial (Bird) e Fundo Monetário Internacional (FMI).

— Por tempo demasiado, muitos países orientaram suas economias para a exportação em lugar do consumo interno, contando com os Estados Unidos para importarem mais de seus bens e serviços do que eles compravam de nós — disse Geithner. — Países que registram cronicamente grandes superávits precisam adotar medidas para estimular seu consumo interno.

Sobre a turbulência nos mercados cambiais — com vários países tentando conter a valorização de suas moedas —, Geithner a chamou de “um problema multilateral” que “requer uma abordagem de cooperação para ser resolvido”. Ele defendeu ainda uma reforma cambial em países com superávits elevados — caso da China, que adota o câmbio fixo.
Fonte: O Globo


Para exportadores, anúncio do governo brasileiro é insuficiente

outubro 6, 2010

xportadores consideraram insuficiente o aumento de imposto para conter a desvalorização do dólar. O setor cobra medidas de longo prazo para reduzir o custo das vendas ao exterior.

Representantes do setor disseram que a elevação do IOF sobre investimentos estrangeiros em renda fixa não vai evitar a queda da moeda americana no longo prazo.

Com a valorização cambial e o crescimento do mercado interno, empresas se concentram no mercado doméstico.

Um exemplo é a Bibi Calçados, que exportava 25% da produção há quatro anos e hoje exporta 15%. Seu presidente, Marlin Kohllausch, defende que se desonere a produção para exportação.

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, diz que o aumento de IOF terá mais efeito sobre a arrecadação de impostos do que sobre o câmbio, pois os juros do país ainda serão atrativos para os estrangeiros.

Fonte: Folha de São Paulo


“Guerra cambial” exige atenção do brasileiro

outubro 4, 2010

Brasileiros com viagem marcada para o exterior, plano de fazer intercâmbio, estudar fora ou que tenham dívidas em dólares precisam tomar cuidado com a taxa de câmbio, que pode ter solavancos nas próximas semanas, segundo especialistas.

Após descer na sexta a R$ 1,68, menor nível em dois anos, o dólar pode voltar a subir -mesmo que momentaneamente- se o governo cumprir a ameaça de intervir pesado no câmbio por meio do Fundo Soberano ou de elevar IOF para estrangeiros.

Mas isso se a enxurrada de recursos estrangeiros ao Brasil não aumentar ainda mais, marcando novo “fundo do poço” para o dólar e impondo outro fracasso às tentativas de inverter os fluxos mundiais de capital.

Diante da imprevisibilidade do resultado daquilo que o ministro Guido Mantega (Fazenda) chamou “guerra cambial”, especialistas recomendam que a pessoa “exposta” ao risco cambial comece, o mais cedo possível, a comprar a moeda americana em pequenas quantidades.

As compras devem ocorrer durante o tempo que ainda falta para a pessoa viajar ou utilizar o dinheiro.

Preço médio

A ideia é fazer um preço médio mais estável, que equilibre tanto cenários de alta como de baixa do dólar.

Se a intervenção do governo der certo e a moeda americana chegar a R$ 1,80, a pessoa vai ter comprado parte dos dólares a R$ 1,68, R$ 1,70, R$ 1,72 etc. Na média, terá ficado com preço inferior ao que compraria mais tarde a preço de mercado.

Por outro lado, se as intervenções derem errado e taxa de câmbio cair para R$ 1,50, a pessoa ainda conseguirá comprar parte do precisa com um preço favorável.

Em ambos os casos, não fará o melhor negócio do mundo; mas também não sairá perdendo muito dinheiro com a variação cambial.

O consultor Mauro Halfeld, professor da Universidade Federal de Santa Catarina, aprova a estratégia do preço médio, mas sugere que a pessoa compre mais dólares agora para aproveitar o preço historicamente baixo da moeda americana.

“Quem mantém relações com os EUA tem um poder de compra alto. É uma oportunidade para viajar, fazer intercâmbio, aprender inglês, fazer uma pós-graduação e investir na formação”, disse.

Para Fabio Colombo, administrador de investimentos pessoais, a estratégia do preço médio é aconselhada para as pessoas de perfil moderado, que não gostam de assumir riscos demasiados.

Colombo sugere que a pessoa que pretenda, por exemplo, gastar US$ 6.000 daqui a seis meses compre US$ 1.000 todos os meses até lá.

Se precisar do dinheiro daqui a um ano, pode fazer compras de US$ 500 nos próximos 12 meses.

Aos mais conservadores, Colombo sugere comprar imediatamente a moeda, que está com um preço bastante bom. “O conservador compra tudo agora e se livra do risco. Os mais agressivos podem deixar para a última hora, aproveitando para comprar com um preço ainda mais baixo; mas também pode dar errado e ter de comprar tudo depois com um preço bem mais alto”, disse.

Fonte: Folha de São Paulo


Governo eleva de 2% para 4% alíquota do IOF para conter queda do dólar

outubro 4, 2010

Brasília – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou há pouco que dobrará a alíquota de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para os investimentos de estrangeiros em renda fixa no Brasil.

A partir de amanhã, a alíquota para essas aplicações subirá de 2% para 4%.

Os investimentos externos em ações e no mercado futuro continuarão a pagar 2%. A taxação do capital estrangeiro que entra no país está em vigor desde outubro do ano passado.

De acordo com Mantega, a medida é necessária para conter a queda do dólar depois da capitalização da Petrobras, que atraiu divisas para o Brasil. “O dólar baixo prejudica as nossas exportações. Por isso, decidimos elevar o imposto”.
Fonte: Correio Braziliense


Mantega quer discutir guerra cambial no FMI e G-20

outubro 4, 2010

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o Brasil levará para os fóruns internacionais a discussão sobre a atual “guerra cambial”. “Vou levar o tema para a reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) da semana que vem e para o G-20 duas semanas depois”, afirmo Mantega. O ministro votou no início da tarde deste domingo (3) na escola Pueri Domus, na zona sul da capital paulista, acompanhado apenas de sua filha Caroline e sem escolta policial.

Apesar de relevar a disposição do Brasil de discutir o tema nos fóruns internacionais, Mantega se recusou a comentar sobre o câmbio. “Hoje não é dia de câmbio, é dia de democracia, de eleição”, afirmou. Sobre o seu futuro político, o ministro também desconversou. “Estou concentrado em terminar bem o ano de 2010 e fazer com que o Brasil tenha um bom final de ano”, disse Mantega. “Não estou pensando ainda no futuro”, acrescentou o ministro.

Mantega ainda afirmou que o próximo ministro da Fazenda terá como principal desafio “dar continuidade ao atual programa, que é bem sucedido, de modo que o Brasil conquiste indicadores socioeconômicos de um país avançado”. Apesar do status de ministro, Mantega passou discretamente pelo local de votação e não foi abordado pelos eleitores.

Na segunda-feira da semana passada, 27, o ministro Mantega usou pela primeira vez a expressão “guerra cambial”, ao criticar a postura unilateral que está sendo tomada por vários países que, temendo perder competitividade no comércio devido à fraqueza da economia global, estão promovendo a depreciação de suas moedas para incentivar as exportações.

Segundo ele, o mundo vive atualmente uma “guerra cambial” que ameaça a competitividade brasileira no comércio internacional. Na ocasião, ele afirmou que o governo Lula tem instrumentos para conter a valorização do real. “Não permitiremos que o Brasil seja prejudicado por causa da política cambial dos demais países”, disse Mantega, naquele dia.
Fonte: Jornal do Comércio


BCE contesta Brasil sobre taxa de câmbio

setembro 30, 2010

Debate : Vitor Constancio diz que não há guerra de moedas; Meirelles volta a defender monitoramento

Assis Moreira | De Bruxelas

O vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Vitor Constancio, disse ontem que não está havendo guerra de moedas, e sim câmbio flutuante, numa dura reação a avaliação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre a onda de desvalorizações em vários países e que teve repercussão internacional.

Por sua vez, o presidente do Banco Central brasileiro, Henrique Meirelles, endureceu o tom defendendo monitoramento “das economias sistematicamente importantes” para evitar que elas acabem empurrando as outras para crises, e exemplificou que a acumulação de reservas pelo Brasil ajuda a estabilidade global.

As duas autoridades monetárias participaram ontem, em diferentes momentos, de seminário sobre serviços financeiros na Europa, em Bruxelas, que atraiu banqueiros, reguladores e representantes de governos.

Em entrevista ao Valor, o vice-presidente do BCE considerou “exagerada” a avaliação de Mantega de guerra de moeda. “Não existe guerra”, rejeitou Vitor Constancio. “Não há comparação com a grande depressão dos anos 30, que é o período citado por guerra de moedas. A situação é de volatilidade das taxas de câmbio, mas isso sempre existirá”.

O ex-presidente do Banco Central de Portugal acrescentou : “Existe é câmbio flutuante, e esperamos que as principais moedas devem também se comportem respeitando esse sistema”.

Indagado se não é mais fácil um europeu fazer essa avaliação, quando o euro sofreu forte desvalorização e turbina suas exportações, ele retrucou sorrindo: “O euro já desceu, mas está se valorizando. São situações normais nos mercados cambiais. Insisto, é câmbio flutuante e esses episódios podem acontecer. O BCE não tem uma política definição de taxa de câmbio.”

O vice-presidente do BCE rejeitou também sinalizações brasileiras para se tentar coordenação do G-20 na área cambial, em novembro em Seul (Coreia do Sul). “É difícil isso, mas o G-20 está monitorando a situação. Em caso de flutuações condenáveis, (os BCs) podem coordenar suas atuações. Mas não é o caso neste momento, não é uma situação pior do que tem sido dos últimos meses”.

De seu lado, o presidente do BC, Henrique Meirelles, acabou “chutando o pau da barraca”, numa expressão ouvida no seminário na Europa endividada e economia quase estagnada. Saindo das discussões técnicas sobre regulação, ele defendeu que não bastava endurecer regras sobre instituições financeiras sistematicamente importantes. E que é preciso monitorar “economias sistemicamente importantes”, ou seja, grandes e mais perigosas para causar problemas na economia mundial. Não citou os EUA ou qualquer outro país, mas ninguém ignorou a direção da mensagem e recebeu aplausos do auditório composto na maioria por europeus.

“Há duas lições importantes desta crise. A primeira é que uma regulamentação prudencial sólida que assegure a estabilidade dos sistemas financeiros é fundamental para o crescimento sustentado dos países. Instituições financeiras vulneráveis aos ciclos econômicos ou com excesso de risco geram prejuízos econômicos graves aos países. A estabilidade financeira dos bancos é importante. “Mas também a estabilidade financeira do país é importante, porque, quanto mais estável o pais, mais estáveis as companhias, os bancos e a situação financeira das famílias serão”, afirmou.

No caso especifico do Brasil, ele mencionou “a construção de reservas internacionais, a relação cadente da dívida pública sobre o PIB nos últimos oito anos, inflação na meta, com economia estabilizada.” “E isso propicia condições para se diminuir o nível de risco global do país, dando mais condições para que o próprio sistema seja mais estável.”

Parece claro que EUA, China e os europeus não vão deixar o Fundo Monetário Internacional (FMI) monitorar efetivamente suas políticas econômicas, como fazia junto aos países em desenvolvimento. Mas o ex-diretor do fundo, Jacques de Larosiere, hoje sem responsabilidade e sem sofrer as pressões, mostrou-se simpático à ideia de Meirelles. “É preciso pegar o bicho pelos chifres”, disse.

Encerrando o debate, o comissário europeu encarregado do mercado interno e dos serviços, Michel Barnier, reconheceu a evidência de que “o mundo não termina nos EUA e UE” e anunciou que procurará os emergentes “para construir juntos a bases de novas regras e normas comuns”.
Fonte: Valor Econômico